segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

UMA PROPOSTA PARA SANTOS

por Albano Fonseca

O grande desafio que enfrenta qualquer nova administração é o de estimular e apoiar a geração de empregos e da renda das famílias e de fazer crescer a arrecadação, de maneira a permitir a retomada do desenvolvimento social e econômico. Deverá servir-se de uma idéia-força, com imaginação, criatividade, habilidade e competência para identificar a um projeto que atenda a essas especificações. Deverá mobilizar a opinião pública para tê-la a favor da iniciativa.

O turismo é atividade econômica que responde com mais rapidez às iniciativas e estímulos que lhes sejam proporcionados. Há quase um consenso pela obviedade que aparenta. Desde há muito que se apresenta, na concepção de alguns, como promotora da “redenção” da cidade e da Região. As coisas não são, porém, tão fáceis assim.

Antes que se cair na mesma velha cantilena sobre o assunto, antes de se voltar às mesmas velhas e inócuas propostas, aos projetos megalômanos e descolados da realidade objetiva, à discussão inócua e dispersiva, baseada em impressões eivadas de desconhecimento, de desinformação e até mesmo na repetição de argumentos antiquados e negados pela realidade, é obrigatória a percepção de que não existem mais as condições que existiram anteriormente. Santos poderá ser, como já o foi, um grande centro receptivo se formos capazes de desmistificar o que a ignorância e a má-fé, provenientes em larga parte de fontes locais, têm alardeado.

É evidente que a cidade tem todas as condições necessárias para desenvolver em escala crescente e de alto retorno financeiro a economia turística, sem a necessidade de investimentos diretos de grande porte imediatamente. Desde que direcionada para o rumo correto. O Poder Público deverá ser o grande indutor.

Mas as condições objetivas mudaram, Santos perdeu sua condição de grande (e único) “resort” dos anos anteriores à abertura do acesso ao Litoral Norte, da expansão e melhoria do acesso ao Litoral Sul, do crescimento da classe média e das facilidades de viajar e estar, decorrentes do crescimento da economia nacional, das mudanças de hábitos de consumo e lazer, da perda de sua importância econômica relativa em um contexto privilegiado (o do comércio do café) e do surgimento de novos eixos econômicos e turísticos por todo o país. Para ficar em um único exemplo, o parque hoteleiro da cidade tem o mesmo porte ou talvez seja menor do que era no começo dos anos ’50 (e com menor índice de ocupação), quando sua população era de menos que a metade da atual. Assim, a cidade tem que se voltar para aquilo que surge, naturalmente, como sua vocação e explorar com eficiência a vantagem que lhe proporcionam suas condições e qualidades únicas. E o fará melhor trazendo para isso o apoio e a colaboração ativa do enorme contingente de pessoas de mais idade, muitas delas profissionais que ainda podem aportar idéias e dar parte de seu tempo em tarefas de planejamento, consultoria, pesquisa e organização.

Não se pode esquecer, também, que a quantidade de leitos disponíveis para novos turistas é pequena, pouco acima de dois mil em toda a Região, e que qualquer esforço de incremento de turistas deverá ser feita gradativamente, já que os investimentos requeridos para crescimento exponencial só serão atraídos depois de confirmado o crescimento seguro da demanda. De outra forma, a desordem que se possa estabelecer acabará por destruir totalmente a iniciativa.

Finalmente, e não menos importante, é necessário entender que se terá que começar da base, uma vez que tudo o que se tem feito, da maneira tradicional, não leva a lugar nenhum, geram mais despesas que retorno e mantém apenas as condições vegetativas retroagentes e ineficazes.

A proposta a ser delineada está apoiada em premissas, como se passa a expor:

a. O turismo é, no contexto econômico mundial, uma das atividades que geram mais receita, talvez a segunda em volume, e se apresenta no início do milênio como esperança e perspectiva bem fundadas para os que o entendam bem e saibam encaminhar o seu planejamento e implementação;

b. Santos busca, desde há muito, um plano de ação nesse campo, ainda que a isso pareça ter vocação natural por suas condições de cidade marítima e de praias. Mas o que há é o aproveitamento predatório de vantagens políticas, econômicas e fiscais por pessoas ou grupos. Há uma tentativa constante de se apossar de áreas públicas, de se obter isenções e recursos a fundo perdido, sempre que possível. Há muito voluntarismo, mas pouco de prático em escala compreensiva e/ou sistemática. Há muitas idéias mal alinhavadas e mal alicerçadas. Não se verifica a viabilidade econômico-financeira do que se propõe, não se indicam as fontes de recursos, não se quantifica, não se pesquisa, não se respeitam a história, a cultura e o meio ambiente.

c. A atividade turística, embora pareça ter, às vezes, uma amplitude muito larga, necessita estabelecer bem claramente seus objetivos e definir seu foco, para não se dispersar com muitos efeitos pirotécnicos, pouca efetividade e desperdício dos recursos econômicos escassos;

d. Os maiores pólos de atração turística não apresentam uma grande variação em sua linha mestra. Orientam-se para um “tema” principal, uma vez definido seu público-cliente, que passa a ser seu público-alvo. É certo que há exceções, mas, em linhas gerais, alcançam melhor seus objetivos e resultados econômicos aqueles que sabem bem claramente o que têm e potencializam ao máximo o seu aproveitamento. Assim, Florença vende história, cultura e valores estéticos (em 2001, essa cidade acolheu cerca de 8 milhões de turistas e faturou US 4 bilhões, o que corresponde a tudo o que o Brasil arrecadou com o turismo internacional no mesmo período. Nossa região recebe por ano, abstraída a qualidade econômica, mais do que essa quantidade de visitantes). Orlando, na Flórida, vende parques temáticos, diversões mecânicas e paisagens artificiais, Cancun as praias e alguma arqueologia, Lourdes vende fé e religiosidade. Cada uma dessas localidades atinge um público bem definido, embora às vezes interpenetrado. Os que acorrem a esses lugares sabem exatamente o que vão encontrar e que satisfará suas expectativas. É interessante notar que a nossa região, embora poucos se dêem conta e não haja nenhuma ação no sentido de aproveitar essa vantagem, possui atrações de interesse turístico e de visitação mais variadas que a maioria dos lugares citados;

e. Os fluxos turísticos podem ser identificados ou caracterizados por fatores como nacionalidade, faixa etária, interesses, o que permite estabelecer e implementar estratégias de atração mais eficiente da clientela;

f. O grupo de turistas que interessa mais a qualquer receptor consciente e competente é o composto pelas pessoas de maior idade, aposentadas ou não, do próprio país ou de outras origens. Isso se deve a que essas pessoas ou famílias estão já definidas do ponto de vista econômico, e requerem um tipo de atendimento que pode ser mais bem estruturado e remunerado. Outra das vantagens que apresenta o turismo feito pelas pessoas de mais idade é que pode ser planificado de maneira mais linear para todas as estações do ano, já que essas pessoas, em sua maioria, não têm mais preocupações com períodos escolares ou sazonalidade, diminuindo a ocorrência de variações importantes de demanda. Também, pelos hábitos e comportamento, determinam um melhor retorno econômico aos lugares que freqüentam, com vista ao custo-benefício;

g. Santos, por sua topografia, pela beleza natural, pela qualidade de vida que, apesar de alguns retrocessos, ainda apresenta um nível superior comparativamente à quase totalidade das cidades do Brasil, principalmente face às de grande porte, pelo modo de ser e viver de seus nativos, pelo conjunto de serviços públicos e privados que possui, por estar dentro do eixo político, cultural e econômico de maior importância do país, é candidata natural a ser o grande pólo de atração desses turistas nesta parte do hemisfério. E surgiria como a grande beneficiária dos resultados de uma política bem planificada e bem executada nesse sentido.

(Todos, ou quase todos, os requerimentos para que se passe da idéia à ação estão presentes em nossa cidade, sendo razoável supor que fontes de recursos federais, estaduais e municipais – e mesmo internacionais pública ou privadas, como de ONG’s voltadas para o estudo e o incremento das condições de vida desses segmentos etários, ou o fornecido por agências de fomento de outros países que buscam acolhimento para os seus idosos como, por ex., o Japão – podem ser mobilizados mediante atitudes positivas. Não há necessidade de investimentos vultosos em infra-estrutura e nem na instalação de equipamentos como parques temáticos, balneários, hotéis, fatores estes que virão em decorrência do crescimento lógico da demanda e do conseqüente interesse de investir do operador privado. O que se necessita é de imaginação, criatividade, capacidade de trabalho, de articulação de agentes e fatores, de aglutinação e de vontade política.)

Por todos esses motivos e muitos outros que se poderá aduzir, se sugere a planificação e a implementação de um conjunto de ações, no sentido de transformar a cidade nesse grande pólo de turismo receptivo da maturidade no país e no continente. Para isso, são indicadas duas medidas:

1. Criação, em caráter de urgência, de uma agência autônoma e independente (de conformidade com o que propõem os apontamentos anexados) que executará essa função, organizando, operando e articulando os fatores e o acoplamento com outros agentes públicos de todos os âmbitos e da iniciativa privada e outros atores interessados e/ou beneficiários da atividade turística. Apresentará um plano de ação para médio e longo cursos, com visão ampla e integrada à filosofia da administração, e operará o processo pelo tempo necessário à sua consolidação. Deverá ser, no momento oportuno, incorporada a ou absorvida pela secretaria municipal de turismo (depois desta ser devidamente modificada e reestruturada como se propõe a seguir).

2. Reestruturação e reorganização da secretaria municipal de turismo, de modo a transformá-la em um órgão eminentemente de planejamento, de normalização e proponente de legislação específica, abandonando a maioria de suas funções executivas. Manterá, e apenas pelo tempo necessário, a realização dos eventos mais tradicionais, de baixo interesse da iniciativa privada que, posteriormente, serão encaminhados a organizações da comunidade diretamente interessadas neles. Esta nova secretaria identificará oportunidades, avaliará projetos, investigará e identificará fontes de recursos e linhas de financiamento. Porá esse trabalho à disposição dos interessados da área privada, assessorará e, eventualmente, avalizará parcialmente – tomadas todas as medidas legais e de segurança – esses financiamentos obtidos pelos interessados, dentro das condições a serem estabelecidas. Deverá ajustar-se a uma dotação orçamentária mais enxuta e mais adequada a suas novas funções, procurando obter recursos direcionados para as atividades que promoverá, liberando recursos municipais para os setores prioritários e mais carentes.

Atuando deste modo, a secretaria fomentará e estimulará o surgimento de novos agentes e empresários de turismo receptivo, criando as condições para que surjam novas e imaginativas formas de atração turística e se ampliem os investimentos no setor.

De outra parte, a secretaria deverá interagir com os demais órgãos da administração municipal, para a criação de um espírito comunitário de participação nessa transformação mental e física da cidade e seus moradores em referência no turismo nacional, nos padrões de comportamento e de consumo, como laboratório de lançamento de produtos e serviços e de cultura. Poderá lançar um grande concurso de âmbito nacional para a contratação de empresa ou empresas associadas para a construção programática e material de uma imagem da cidade que abrangerá até mesmo a sinalização das vias públicas, a padronização da pintura de seus meios de transporte, ficando a cargo dessas mesmas empresas o financiamento do projeto e sua realização, sendo permitida a comercialização da imagem como meio de ressarcimento, observadas as disposições legais que controlem e protejam o patrimônio ambiental, físico, histórico e cultural da cidade.

3. A atual dotação orçamentária da Setur será adequada à nova situação, feitas as alocações necessárias. Far-se-á o aproveitamento máximo possível do pessoal existente, feitos os remanejamentos apropriados. Ter-se-á em vista a aceitação e a adaptação à nova filosofia da administração e o re-treinamento, quando necessário.

Postado em 02 de fevereiro, de 2009

VOLTAR

Nenhum comentário:

Postar um comentário